História natural da religião, de David Hume
História natural da religião, de David Hume
Tradução, apresentação e notas: Jaimir Conte. Editora da UNESP: São Paulo, 1ª ed. 2005.
ISBN: 8571396043
Sinopse
Neste livro, o filósofo escocês David Hume trata das origens e das causas que produzem o fenômeno da religião, dos seus efeitos sobre a vida e a conduta humanas e das variações cíclicas entre o politeísmo e o monoteísmo. Uma de suas preocupações é também chamar a atenção para os efeitos das diferentes espécies de religião sobre a tolerância e a moralidade. Hume desenvolve uma investigação sobre os princípios “naturais” que originam a crença religiosa, bem como um estudo antropológico e histórico sobre os efeitos sociais da religião.
Textos das orelhas
Com a intolerância religiosa ocupando um espaço privilegiado no debate geopolítico contemporâneo, é salutar retornar a um clássico para uma perspectiva mais ampla sobre o tema. Aliás, o volume original que abarca esta História Natural da Religião, o Five Dissertations, foi ele próprio vitimado pelo temor de David Hume à condenação eclesiástica: já impressa a primeira edição em 1757, foram retirados os dois últimos ensaios que tratavam do suicídio e da imortalidade da alma. Era um medo pertinente: em 1761 todas as obras do filósofo inglês acabaram no Index da Igreja católica. Bem a propósito, portanto, são suas reflexões a respeito dos efeitos das diferentes religiões sobre a moralidade e a tolerância. O natural do título decorre da demanda por uma narrativa histórico-filosófica que não seja predeterminada pela idéia da existência de Deus, e sim decorrente de uma perspectiva segundo a qual a crença é entendida como produto da natureza humana. O que Hume busca são justamente origens e causas que produzem o fenômeno da religião, seus efeitos sobre a vida e a conduta humanas e as variações cíclicas entre o politeísmo e o monoteísmo. O objetivo de Hume é desvendar os princípios que levam o ser humano à procura das crenças religiosas e os contextos sociais específicos – que ele denomina acidentes e causas – que tornam os princípios religiosos diferentes entre nações e até mesmo entre pessoas. Chamam a sua atenção duas questões: a “que se refere ao seu fundamento racional e a que se refere a sua origem na natureza humana”. Com base na afirmação de que o politeísmo é a “religião original dos homens”, o filósofo analisa como as “vicissitudes da vida humana sugerem que muitos e diversos poderes influenciam a felicidade e a miséria humanas”. Neste primeiro momento histórico, a necessidade de explicações sobre-humanas para a fortuna e a má-fortuna conduz a uma galeria de deuses antropomorfos, produtos do mundo natural e não seus autores. No entanto, em um processo análogo ao desenvolvimento social, uma divindade principal começa a predominar, recebendo cada vez mais atenção e deixando as demais em segundo plano. Aqui, apesar da dominante concepção de um deus uno, infinito e totalmente espiritual, ainda se pode encontrar a visão antropomorfa presente em rituais e práticas católicas e maometanas. Hume passa a refletir sobre como as várias concepções de divindade alteram as disposições sociais e filosóficas. O seu percurso o leva à questão: “O que há de mais puro do que certo grau de moral incluído em certos sistemas teológicos? O que há de tão corrupto quanto certas práticas às quais estes sistemas dão origem?” – indagações que devemos manter em toda investigação sobre a necessidade vital humana de explicar a natureza inexplicável.
4ª CAPA: História natural da religião é uma profunda reflexão sobre os princípios que dão origem à crença original e como o contexto histórico, cultural e social influencia e é influenciado pelas disposições morais e filosóficas do ser humano. O percurso de Hume leva ao entendimento de que “o bem e o mal se misturam e se confundem universalmente, assim como a felicidade e a miséria, a sabedoria e a loucura, a virtude e o vício”. Por esse ângulo, a religião estaria associada a princípios sublimes, ao mesmo tempo que dá ensejo a práticas as mais vis. Uma conclusão audaz para a sua época e dramaticamente corroborada pelo cenário contemporâneo.
Sumário
Apresentação 7
Cronologia 11
Nota ao texto desta tradução 17
Introdução 21
- Que o politeísmo foi a primeira religião dos homens 23
- Origem do politeísmo 29
- Continuação do mesmo tema 35
- Que o politeísmo não considera os deuses criadores ou autores do mundo 43
- Diversas formas de politeísmo: a alegoria, a veneração dos heróis 53
- A origem do monoteísmo com base no politeísmo 59
- Confirmação da doutrina de que o monoteísmo deriva do politeísmo 67
- Fluxo e refluxo do politeísmo e do monoteísmo 71
- Comparação entre o politeísmo e o monoteísmo quanto à perseguição e à tolerância 75
- Comparação entre o politeísmo e o monoteísmo quanto à coragem e à humilhação 81
- Comparação entre o politeísmo e o monoteísmo quanto à razão ou ao absurdo 85
- Comparação entre o politeísmo e o monoteísmo quanto à dúvida ou à convicção 89
- Concepções ímpias da natureza divina nas religiões populares monoteísta e politeísta 107
- A má influência das religiões populares sobre a moralidade 115
- Corolário geral 123
Notas desta edição 127
Notas biográficas 139
Seleção bibliográfica 149
Índice onomástico 155
Resenha: Itamar Luis Gelain. In: Revista Natureza humana, vol.14, no.2 São Paulo 2012. ISBN: 8571396043